quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Crônica Pirenopolina (Parte 1)

Amig@s!

O carnaval da Korina foi de altíssimo nível... Fizemos não apenas um, mas dois shows em Pirenópolis/GO! A cidade estava tão lotada de gente (i.e., brasilienses) que quase entrou pro Guinness Book pelo maior engarrafamento no interior do Goiás da história (perdeu por míseros 5km de extensão para Caldas Novas). Pra falar mais dessa viagem, o Guilherme Cobelo nos presenteou com um texto su-realista sobre tudo que passamos por lá. Eis a primeira parte:

Crônica Pirenopolina (Parte 1)
por Gui Cobelo

Então saímos de Brasília às 10 horas da manhã, eu, Kelton e o Velho-&-Usado Arthur Lobo com destino a Pirenópolis, todos mais ou menos perdidos com o rumo que iríamos tomar. Após uma hora no caminho errado, engatamos o velho Palio Dourado na estrada pra Águas Lindas e seguimos viagem tentando sintonizar as rádios locais, que de vez em quando deixavam escapar nos alto-falantes alguma canção rancheira ou um dance nostálgico que nunca ficava no ar por mais de dois minutos. Isso porque o toca-cd não funcionava muito bem, e a cada rachadura no asfalto o som quicava e ficava mudo. Mas isso foi até cruzarmos os povoados. Quando pegamos o estradão mesmo, aí o country-rock rolou à solta. Hank Williams, Michael Nesmith, Gram Parson, Flying Burrito Brothers etc. Ramones caiu muito bem também.

Chegamos em Piri lá pro meio-dia, mortos de fome. Descarregamos nossas tralhas no Odundê, um espaço bem bacana onde o nosso amigo Ernesto nos recebeu e nos indicou um cê-que-se-serve barato que infelizmente estava muito cheio pros nossos pratos. Acabamos comendo no restaurante Pireneus, onde a comida não é tão barata mas pelo menos a gente podia se servir à vontade, com direito a sobremesa que eu “esqueci” de pagar. Enfim satisfeitos, e como não encontrávamos o Marlon em lugar nenhum, resolvemos descansar que nem três cachorros cansados em baixo de uma mangueira, regando o organismo com bastante cerveja gelada na vendinha de uma tia onde rolava uma bossinha e alguns frangos assando naquelas estranhas televisões.

Quando era umas duas-e-meia o Marlon nos liga querendo saber se já estávamos na cidade. Como a passagem de som era às três horas e nosso humor estava muito bem, obrigado, pregamos uma pequena peça dizendo que o carro estava quebrado em Corumbá & que a única marcha que funcionava era a quarta & que tínhamos conhecido umas garotas que haviam topado nos dar carona, só que não sabíamos que horas elas iriam – até que deu dó do Marlon, que estava todo preocupado no telefone achando que o esquema iria furar, e contamos a verdade. Claro que ele ficou meio puto, e com razão, afinal interurbano é caro, e ele não tinha crédito pra esse tipo de brincadeira e patati-patatá. Mas assim que encontramos ele já estava tudo bem, ele estava sorrindo, nos abraçamos e dissemos que era carnaval – argumento infalível!

Não sem um certo atraso após uma correria atrás de fonte & estabilizador & colchonete com nosso amigo Jonas, passamos o som e esperamos a nossa vez de tocar. Enquanto o pessoal dos Novos Vinis faziam sua passagem, ficamos sentados na grama passando o tempo, fumando, comendo sanduíche e bebendo mais cerveja. Lembro que o Kelton estava um pouco mau-humorado nessa altura do dia por não ter tomado banho, mas felizmente aconteceu de um carro parar bem na nossa frente – creio que por causa do Arthur – e de dentro dele desceu uma figura branca e esquelética, uma espécie de Lacraia Albina, trajando apenas um fio dental de oncinha, que deu uma reboladinha, flertou brevemente com o Arthur e se despediu com beijinhos, entrando no carro e descendo a ladeira. Qualquer mau-humor que pudesse restar acabou naquele exato momento. Salve! salve! os loucos de férias! Ganhamos o dia.

Então rolou o show dos Novos Vinis. Eu mesmo nunca tinha visto eles ao vivo, só pelo youtube, e me surpreendi. O som deles é bem animado e pra frente, uma coisa meio country-rock com boas melodias e harmonias vocais. Infelizmente não dava pra escutar as letras, o espaço era pequeno e os instrumentos acabavam cobrindo as vozes. Mas deu pra sacar a energia da galera, que mesmo depois de um longo roteiro de shows sucessivos conseguiram manter o ânimo aceso. Eles devem ter tocado uma meia-hora eu acho, tirando o tempo gasto pra afinar a guitarra e, quando a corda arrebentou, pra trocar o instrumento. Como não tinha muita gente no show, acabou ficando um clima bem descontraído, creio que ninguém se importou. Eu pelo menos nem liguei. E foi com a mesma descontração que plugamos nossos instrumentos e tocamos nossas músicas. A acústica do local não estava lá essas coisas mas o cara da mesa de som fez algumas mágicas pra eu poder ouvir minha voz. Tocamos umas onze músicas e quando estávamos tocando a saidêra a energia do Odundê começou a falhar até ficar apenas um murmúrio solitário de guitarra no ambiente, acompanhado pela bateria que felizmente não precisa ligar na tomada pra funcionar. Pra não deixar a música morrer, aproveitei as batidas do bumbo e da caixa e emendei uma marchinha de carnaval pra variar. Quanto riso! Ó! Quanta alegria! Mais de mil palhaços no salão... Acabamos o show no escuro e rapidamente começamos a desmontagem pra ceder o espaço pra galera que iria tocar depois da gente. Entre eles o lendário Lanny Gordin, um guitarrista fantástico que esteve ao lado de muita gente boa nos anos 60 e 70, entre eles Caetano Veloso e Os Mutantes. O cara carrega uma espécie de aura consigo. Dizem que ele esteve internado em um hospital psiquiátrico com o diagnóstico de esquizofrenia. Mas não era a loucura que dava o tom de sua aura. Sei lá. O olhar dele tem alguma coisa de sobrenatural, não apenas loucura; é como se ele estivesse com um pé no lado claro da lua, não no lado escuro. Lembro de estar descendo a ladeira com o Diego de Moraes e uma figura toda de preto passar ao nosso lado. O Diego ficou meio alvoroçado e cutucando me disse: “Cara, esse não é o Lanny Gordin?! É ele! É o Lanny Gordin!” Eu concordei e por um momento ficamos olhando aquele senhor solitário subir calmamente as calçadas.

Muito bem. Voltando às nossas idas e vindas, assim que acabou o show e depois de ter encontrado nossos amigos recém-chegados de Brasília – deviam ser umas oito horas da noite – sentimos necessidade de tomar um banho pra renovar as energias. Na verdade só o Kelton e o Arthur. Senti que se eu tomasse banho naquele momento eu perderia alguma coisa que estava na minha pele e no meu suor e que eu não queria de forma alguma perder. Um desodorante bastaria. E nem isso havia. Mas o duro mesmo foi encontrar o caminho de volta pra casa da Karine, uma garota gente boa que estava cedendo a casa pra fazermos nosso alojamento. Apesar de antes do show termos dado um pulo na casa dela pra conhecer o caminho, foi difícil acertar de primeira. Primeiro porque a cidade estava cheia, e é complicado se concentrar em algo quando tem um bloco de foliões fechando a rua e pulando na frente do seu carro. Depois a memória sempre falha por algum motivo, oras bolas. Ninguém é de ferro. Sei que na primeira tentativa eu acabei fazendo um círculo exato e voltando misteriosamente pro mesmo ponto. Aí telefonemas vão, telefonemas vêm, e a Karine dá uma explicação mais pormenorizada do trajeto. Tudo que eu lembro é que deveríamos encontrar uma cruz-de-pedra e daí entrar na primeira ruazinha à esquerda. Mais de meia-hora depois, e com o Arthur no volante, conseguimos enfim chegar na dita cuja. O primo dela estava lá a um tempão esperando a gente pra poder nos entregar a chave e curtir a noite, mas felizmente ele não parecia bravo nem nada. E se estivesse também, fazer o que, né? Kelton e Arthur tomaram seus devidos banhos enquanto eu na varanda ficava desfiando uns blues na guitarra. Logo-logo estávamos no carro, de volta ao centro, animados com a perspectiva de uma longa noite pela frente.

Um comentário:

  1. Cara, curti demais o som de vcs!
    Bom demais esse carnaval (geralmente, é melancólico...).

    nos vemos logo, espero.

    "Triste Brasília..."

    Abração!

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